sábado, 18 de abril de 2009

back to the Motorcycle Diaries


A TV espanhola é meio esquizofrênica e bregona, mas passa muitos filmes bons, especialmente o canal 2, que é tipo uma tv cultura nacional. Ontem, além de V de Vingança dublado em catalão, passou Diarios de Motocicleta. Resolvi rever esse, V é respeitável demais pra assistir dublado, ainda mais em catalão (o final é positivinho-revolucionáriodemais - Allan Moore, eu entendo sua birra com os adaptadores de quadrinhos pra filmes. Todos eles.)

Eu era completamente apaixonada por esse filme nos idos de 2004, e surtanicamente queria organizar um mochilão libertário pela América do Sul e encontrar meu verdadeiro "eu" e a minha missão na vida. No fim, eu nunca fui nem pra Macchu Picchu (ainda), apesar das milhares de combinações. Revendo o filme, algumas considerações cinematográficas e vidísticas a respeito do mesmo:

- depois do Benicio del Toro de Che, o che do Gael parece nanico e bobo. E é muito engraçado ver que o cara que faz o Granado fica se encolhendo o tempo todo pro Gael parecer mais alto.

- Em 2004, aos 19, eu via o filme e alucinava com as paisagens, com o espírito de aventura dos moços, com a coragem de largar tudo e falar com as pessoas enquanto eles rodavam aquelas estradinhas capengas do sul. Ontem eu pensava que viajar de moto devia ser desconfortável pra caramba, que eles deviam ficar com as costas fodidas, que o vento, que o frio, que onde ja se viu, acampar e pegar carona (isso de pegar carona me irrita, um pouco, porque mulher nao pode pegar carona inocente, dados os códigos caminhoneiristicos do mundo...). Depois dessa, cheguei à conclusão de estar ficando velha... mas não menos aventureira, só por preferir um carro ou um avião amigo ao invés de uma moto. Só um pouco de aquecimento e agua potável não é pedir muito...

- O filme é esteticamente lindo, especialmente porque passa nos anos 50. E os anos 5o tinham uma estética linda. E nao existia quase infra-estrutura turística, então a idealizaçao de aventura é muito maior. Hoje você pode ser o maior bundão do mundo que compra sua viagem pra macchu picchu, alojamento e refeiçoes do aconchego da sua cadeira reclinável. E nem por isso é menos aventura. (eu acho, pelo menos). Tudo depende da disposiçao de sentir que você coloca. Claro que hoje, os indios peruanos do filme devem estar no mínimo de saco cheio de falar com turista impressionado. Que eles pelo menos comprem souvenirs fofos.

- O che do Gael é meio mala, especialmente na parte que o médico de Lima pede pra ele contar o que achou do livro que ele escreveu. Ele diz que o livro é tosco, mas de um jeito muito brusco. Nao custava nada ser um pouco delicado e agradável pra emitir a opinião, ja que eles ficaram hospedados na casa do cara. Eu disse delicado, nao mentiroso. E ser delicado não é difícil, mesmo para um futuro revolucionário. Usar a educaçao que mamae deu, ora essa! O Salles (diretor) dá umas pegadas social/sentimentalóides as vezes que desvia um pouco da verossimilhança, pesa a mão na metáfora, tipo essa cena do romance do protetor de lima. O Granado (Granado é o nome de um ótimo polvilho para pés) fica parecendo um falso, idiota só porque quer agradar o cara, ser político. O bonzão é o che, que fala a verdade, apesar de ser super mal educado com uma pessoa que ajudou-os (eu ainda nao me conformei com a cena).

Conclusão: eu ainda gosto do filme. É um road movie, o equivalente contemporâneo do bildungsroman, e bildungsromans são sempre uma leitura excitante: ver os amadurecimentos e progressos dos personagens condensados em um livro ou nas duas horas do filme! É um filme fofo, com uma puta fotografia, uma trilha sonora que me lembra a de Dead Man (super recomendável, com o Johnny Deep), do Jarmusch com trilha do Nick Cave. Mas já não empolga mais tanto... seré un vaso vacío?

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